3 de set. de 2006

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.
(Carlos Drummond de Andrade)

É interessante como muitas vezes as coisas parecem confluir para um ponto, uma coincidência, ou talvez seja penas a sensibilização por algo não antes pensado, refletido.
O uso do poema acima para simplesmente ensinar a diferença entre o pretérito perfeito e o imperfeito em Português, levou-nos, na reunião de profs., a pensar em diversas coisas, como a incompreensão dos estrangeiros, em geral, a respeito do sentido do mesmo.
Uma das coisas ditas foi, que apesar de todo o sentido trágico do mesmo, os nativos acabam rindo a respeito dele, mostrando um fator cultural de nós mesmos: não desanimar e levar as coisas no bom-humor, ou talvez ver que sempre pode ter alguém em situação pior que a nossa...
Talvez essa sensibilização na 6ª feira tenha me levado a analisar de uma forma diferente a peça de teatro que assisti no sábado. “Mulheres da minha vida”, com uma idéia que pode tocar a todos que sejam sinceros consigo mesmos (a eterna busca por aquilo que, ao menos no momento, não podemos ter; a incapacidade de ver o presente e o que podemos desenvolver a partir dele). Mas, voltando ao tragicômico do poema em relação à peça... Em muitos momentos os diálogos ou pensamentos são realmente cômicos, mas em outros, eu realmente não entendi muito bem porque as pessoas riam... Acho que a percepção para a miséria humana, para os problemas dos outros, ainda anda distorcida...
De qualquer modo, se você se acha um maluco, pensa “com os seus botões”, faz diálogos imaginários, e admite isso (não precisa ser para os outros, mas pelo menos para si mesmo), se tiver chance, veja a peça. Não apenas pelo Fagundes, mas por você! E pense bem em que momentos pode-se realmente rir da desgraça alheia, e em quais não...

Nenhum comentário: